DARIO VELLOZO E O NEO-PITAGORISMO
CONTEMPORÂNEO.
Professor Rosala Garzuze.
Denominamos Neo-Pitagorismo contemporâneo
à corrente iniciática fundada no Brasil, Estado do Paraná, em 1909, por Dario
Vellozo.
Nos últimos anos do século XIX as correntes
espiritualistas, no Ocidente, foram crescendo não só em número e em adeptos
como também em elevação intelectual, moral e espiritual. Além disso, foram
passando do domínio puramente particular, de influências restritas, para um
domínio mais geral, de influências mais amplas. Os seus ideais transpuseram os
limites das agremiações para interessarem as coletividades.
Três instituições espiritualistas apareceram nos
fins do século XIX, tendo como ponto de partida a América.
H.P. Blavatsky (1831-1891), Allan Kardec (1804-1869) e Papus
(1865-1916), com os fatos acontecidos com as irmãs Fox: Leah
(1814-1890), Kate (1836-1892) e Margareth (1833-1893), dão-se à
observação de uma série de fenômenos que, embora de ordem física, não revelavam
uma causa física que os produzisse. Como tais fenômenos revelavam uma
orientação inteligente supôs-se que a causa fosse também inteligente, atuando
no domínio psíquico. Era um mundo novo que se abria à curiosidade dos sábios.
Blavatsky, Kardec e Papus, um pedagogo e um médico
franceses, e uma princesa russa infeliz, aprofundam seus estudos, investigam
mais a fim de determinar a natureza da causa que produzia semelhantes
manifestações. Seriam seres ou forças inteligentes que agiam no mundo físico?
Seriam do mundo físico ou do mundo hiper-físico? Eram produzidas pelo próprio
homem por intermédio de sua vontade ou este servia de instrumento de elementos
invisíveis? A princípio esses três espiritualistas, despidos das superstições
espiritualistas e materialistas, trabalharam juntos, para depois se afastarem,
indo cada qual constituir núcleos de estudos e fundam sociedades de
investigação e desenvolvimento psíquicos: Blavatsky organiza e divulga a
“Teosofia” através da “Sociedade Teosófica”; Allan Kardec,
que viera do materialismo funda o “Centro de estudos psíquicos espirituais”;
Papus, que já era ocultista codifica e orienta a Corrente ocultista
contemporânea. Cada um segue caminho diferente.
As três correntes são, em princípio, ocultistas,
daí surgiram e aí se firmaram, embora discordem sobre pontos secundários e o
fanatismo de alguns membros atire uma contra a outra. O excesso de zelo dos
próprios fundadores não os deixou à margem das alfinetadas recíprocas, conforme
se depreende da leitura de suas obras. Até hoje as prevenções recíprocas mantém
a distancia os adeptos das diversas correntes.
A Teosofia – doutrina iniciática do Oriente
– é veiculada no Ocidente por meio da Sociedade Teosófica. Um dos inspiradores
de Blavatsky foi Pitágoras (580-490 a.C.). Pitágoras foi também a fonte de
Papus. Allan Kardec foi o popularizador dos ensinamentos iniciáticos, por isso
o número de adeptos da “doutrina dos espíritos” eleva-se hoje em dia a
milhões, enquanto que os das outras doutrinas, muito mais restrito. É
denominada também de “espiritualismo científico”. As correntes teosófica
e ocultista são mais filosóficas e mais diretamente presas à Iniciação, como a
Maçonaria, o Neo-Pitagorismo, o Pitagorismo da Escola de Krótona, com uma parte
fechada, esotérica onde o candidato é submetido a provas da sua capacidade para
conquistar os graus do conhecimento.
Os graus existem e é preciso conquistá-los pelo
próprio esforço físico, mental e moral. As instituições iniciáticas têm dois
ensinamentos – o exotérico- literário, filosófico, artístico e
científico, mais ao alcance da mentalidade comum, e o esotérico,
desenvolvimento das faculdades hiper-físicas, estudo do simbolismo, etc., que
não podem estar ao alcance da maioria, mas de uma minoria consagrada à vida
iniciática. Para entrar na posse dos conhecimentos iniciáticos necessário uma
base sólida.
O conhecimento iniciático pode ser adquirido pelo
contacto com essas instituições ou intuitivamente. Ambos para serem completos
devem ser objetivados, praticados.
Para se ter uma idéia clara do que essas correntes
fazem e porque agem desta ou daquela maneira, necessário intimizar-se com as
mesmas ou procurando pela intuição atingir as causas, o que é muito
problemático.
Conhece o valor dessas instituições quem puser em
prática os seus princípios. A consciência plena da realidade é o resultado do
consórcio harmônico da teoria e da prática. Há duas espécies gerais de
conhecimento – intelectual -, fruto da meditação, e - experimental -, fruto da
observação e da experiência objetiva e subjetiva.
Só o conhecimento teórico é insuficiente. A falta
da prática dos princípios, interna e externamente, tem levado as instituições
ao caos e ao fracasso.
As instituições caem, mas as ideias mantêm-se. Os
princípios são eternos, independem das organizações humanas erigidas para
defendê-los e praticá-los.
ESOTÉRICO: adj.
Qualificação dada, nas escolas dos antigos filósofos, à sua doutrina secreta.
Incompreensível às pessoas não iniciadas: linguagem esotérica. Pode o homem perecer, física e moralmente, mas, as instituições, os princípios, prosseguem sua marcha.
Incompreensível às pessoas não iniciadas: linguagem esotérica. Pode o homem perecer, física e moralmente, mas, as instituições, os princípios, prosseguem sua marcha.
EXOTÉRICO: adj. Diz-se das doutrinas filosóficas e
religiosas ensinadas publicamente (por opos. às doutrinas esotéricas).
O Espiritismo ganhou rapidamente um grande número
de adeptos não só por não ter as provas iniciáticas como as outras
instituições, como também, por inspirar-se nos Evangelhos, fartamente
difundidos pela massa, pelas Igrejas. Por isso ele encontrou já um ambiente
mais ou menos preparado e independente da cultura individual. É o limiar da Iniciação.
Saiu da iniciação e conduz à Iniciação. Os antigos conheciam e praticavam o
espiritismo, embora sob outras denominações. Ele não tem o conhecimento
gradativo, hierárquico como a corrente de Papus e Blavatsky. A hierarquia
existe. O indivíduo é que transpõe pelo próprio esforço os degraus do
conhecimento e da ação. O candidato não pode atingir todos os conhecimentos a
um só tempo, daí a necessidade da divisão, dos graus, da hierarquia. Tudo é
lento e gradativo. Mental, moral e espiritual devem estar conjugados para se
poder algo alcançar.
Essas três correntes nasceram na mesma época e
abriram novos rumos ao século XX. Os fundadores foram amigos, separaram-se e
combateram-se depois, mas no fim aproximaram-se. Da luta entre eles surgiu um
bem: Blavatsky, na Índia, Kardec e Papus na França, estudaram e procuraram
aperfeiçoar suas doutrinas a fim de torná-las invulneráveis à crítica. Disso
resultou a expansão dos conhecimentos esotéricos e a difusão das idéias
espiritualistas esposadas por essas doutrinas. Como a Europa, a Ásia e a
América sofriam o influxo mental da França essas doutrinas circularam com a
literatura francesa ao lado da inglesa, veiculadora da Teosofia. Essa
influência se fez sentir também, no Brasil, onde Dario Vellozo, após ter
conhecido e meditado todas essas correntes encontrou em todas elas a influência
direta do Pitagorismo. Com isso elaborou uma síntese prodigiosa do conhecimento
humano, traduzida no neo-pitagorismo contemporâneo, expressado através da sua
obra prima – ATLÂNTIDA (1938).
O pensador brasileiro fundou a princípio o Centro
de Estudos Esotéricos “Luz Invisível”, mais tarde “Loja Maçônica ‘Luz
Invisível”.
Dario Vellozo pertenceu à “Ordem Martinista”
fundada por Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803) e dirigida nos últimos anos
por Papus, que faleceu em 1916. Na personalidade do Mestre centralizaram-se
todas as correntes esotéricas, que ele fez irradiar do Paraná, dando a este
Estado o “Instituto Neo-Pitagórico” – ponto de convergência e de conciliação
das doutrinas iniciáticas: Teosofia, Ocultismo, Esoterismo, Martinismo,
Maçonaria, etc.
Traços biográficos – Dario Vellozo nasceu no Rio de
Janeiro, a 26 de novembro de 1869 e faleceu no Paraná a 28 de setembro de 1937.
Foi um elo entre dois séculos culminantes na vida da Humanidade. Sua evolução
espiritual se fez numa linha ascensional ininterrupta tendo passado pelo
catolicismo, materialismo e ocultismo. Foi discípulo de Haeckel (1834-1919),
Büchner (1824-1899), Darwin (1809-1882), Lamarck (1744-1829), etc. Em o livro
“Esquifes” estão traços desse materialismo já infiltrado por outras correntes.
Pela ciência entrou em contacto com Papus que o
atrai para o Ocultismo, dando margem à fundação do “Centro de Estudos
Esotéricos Luz Invisível”. A Maçonaria absorveu-lhe uma grande parte de sua
vida. Percorreu e conheceu todos os ramos do Ocultismo: Magia, Alquimia,
Astrologia, Quiromancia, Numerologia, etc. Estudou a Cabala. Palmilhou todos os
domínios do conhecimento espiritual, revolvendo todas as correntes
espiritualistas. Sua atividade intelectual desenvolveu-se primeiro como poeta,
literato, romancista, jornalista, orador, etc. apurando mais e mais a forma e
aprofundando mais e mais a idéia. Criou o seu estilo.
O extraordinário em Dario Vellozo é a harmonia
entre o estilo, as concepções, as imagens e a sua personalidade esquisita e
díspar. Possuía grande capacidade de assimilação mental e de difusão do
conhecimento adquirido, alquimizado através de seu cérebro e de sua
individualidade. Como artista, filiou-se, no início, à corrente literária
simbolista, como se verifica em suas páginas de prosa e verso. “Sólio do
Amanhã”, “Voltaire”, “Serpente Negra”, são obras de análise e de
anticlericalismo.
“Templo Maçônico” condensa as experiências e
conclusões atingidas no trato permanente com a obra dos Mestres da Acácia. A
Filosofia deu-lhe o método para reunir todo o material científico que estava
disperso. Seus orientadores foram Euzébio Motta (1847-1920) - o mestre
da Lógica –, Justiniano de Mello (1853-1940) - o renovador do método
histórico, Delphin de Carvalho (?) etc.
A Filosofia conduziu-o à Pitágoras, o criador do
termo. Fundou o “Método Neo-Pitagórico”, método integral do conhecimento. Sua
cultura vazou sob as mais variadas formas literárias. Cultivou com amor a
Poesia, mesmo porque as expressões mais duradouras são aquelas traduzidas em
ritmo. Como literato foi artista da expressão. Coroando o literato, o artista,
o poeta, o filósofo está o Iniciado. Através das múltiplas facetas de sua
personalidade polimorfa diremos também que foi um espírito eminentemente
plástico: fazia-se compreender por todos porque a todos compreendia.
Estudioso a vida inteira, viveu fora das limitações
do espaço e do tempo. A soma incalculável de conhecimentos adquiridos foi
veiculada através do professorado, da oratória em que pontificou como o maior,
e através de suas obras inúmeras, que revelam ainda sua permanente evolução. Alma
sempre jovem sabia achar sempre novas expressões e novas imagens para traduzir
as idéias. Como obra de ciência deixou: “Compêndio de Pedagogia”, “Lições de
História”, “O Habitat e a integridade nacional”
Em Sociologia: “No Limiar da Paz”, “Terra
das Araucárias”, “Meu País” notas.
Obras poéticas: “Rudel”, “Alma Penitente”, “Cinerário”,
“Atlântida”.
No “romance: “Trança Loura”, O Encantado” –
inédito, etc.
Em Filosofia: fragmentos dispersos.
De seu labor pitagórico legou-nos: “Símbolos e
Miragens”, “Do Retiro Saudoso”, “Horto de Lysis”, “Livro de Alyr”. Ao lado de
seus trabalhos figuram outros espalhados em revistas, jornais, etc.
- Quando, onde e como foi iniciado? Só a ele
pertence saber. Suas últimas obras revelam a evolução espiritual adquirida no
estudo, na meditação e na ação quotidiana com os seus semelhantes. Justamente
porque não cristalizou num período de sua evolução mental é incompreendido e os
julgamentos feitos sobre sua personalidade são deficientes, ressentem-se de
conhecimento mais completo. Alguns ainda hoje, julgam-no baseados nas lutas e
polêmicas que sustentou contra o clericalismo no começo do século... Sua personalidade
integral, a verdadeira, permanecerá desconhecida, nem os discípulos e amigos
mais íntimos a conheceram. Toda biografia que dele se fizer será falha.
13 - Janeiro – 1941.
Apontamentos da 12ª aula do Curso de Pitagorismo,
organizado pelo Professor Rosala Garzuze, ministrado no Templo das Musas, sede
internacional do Pitagorismo, em 21 de julho de 1939, transcritos em 13 de
janeiro de 1941, revistos e completados em 07 de fevereiro de 2008.
Presidente
do Instituto Neo-Pitagórico (1937 a 2009)
Conhecendo a historia do Dario tudo fica melhor,é importante sabermos melhor sobre quem foi o a pessoa homenageada por nosso colégio.
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