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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

QUEM FOI DARIO VELLOZO?



DARIO VELLOZO E O NEO-PITAGORISMO CONTEMPORÂNEO.
                            Professor Rosala Garzuze.
Denominamos Neo-Pitagorismo contemporâneo à corrente iniciática fundada no Brasil, Estado do Paraná, em 1909, por Dario Vellozo.
Nos últimos anos do século XIX as correntes espiritualistas, no Ocidente, foram crescendo não só em número e em adeptos como também em elevação intelectual, moral e espiritual. Além disso, foram passando do domínio puramente particular, de influências restritas, para um domínio mais geral, de influências mais amplas. Os seus ideais transpuseram os limites das agremiações para interessarem as coletividades.
Três instituições espiritualistas apareceram nos fins do século XIX, tendo como ponto de partida a América.

H.P. Blavatsky (1831-1891), Allan Kardec (1804-1869) e Papus (1865-1916), com os fatos acontecidos com as irmãs Fox: Leah (1814-1890), Kate (1836-1892) e Margareth (1833-1893), dão-se à observação de uma série de fenômenos que, embora de ordem física, não revelavam uma causa física que os produzisse. Como tais fenômenos revelavam uma orientação inteligente supôs-se que a causa fosse também inteligente, atuando no domínio psíquico. Era um mundo novo que se abria à curiosidade dos sábios.

Blavatsky, Kardec e Papus, um pedagogo e um médico franceses, e uma princesa russa infeliz, aprofundam seus estudos, investigam mais a fim de determinar a natureza da causa que produzia semelhantes manifestações. Seriam seres ou forças inteligentes que agiam no mundo físico? Seriam do mundo físico ou do mundo hiper-físico? Eram produzidas pelo próprio homem por intermédio de sua vontade ou este servia de instrumento de elementos invisíveis? A princípio esses três espiritualistas, despidos das superstições espiritualistas e materialistas, trabalharam juntos, para depois se afastarem, indo cada qual constituir núcleos de estudos e fundam sociedades de investigação e desenvolvimento psíquicos: Blavatsky organiza e divulga a “Teosofia” através da “Sociedade Teosófica”; Allan Kardec, que viera do materialismo funda o “Centro de estudos psíquicos espirituais”; Papus, que já era ocultista codifica e orienta a Corrente ocultista contemporânea. Cada um segue caminho diferente.
As três correntes são, em princípio, ocultistas, daí surgiram e aí se firmaram, embora discordem sobre pontos secundários e o fanatismo de alguns membros atire uma contra a outra. O excesso de zelo dos próprios fundadores não os deixou à margem das alfinetadas recíprocas, conforme se depreende da leitura de suas obras. Até hoje as prevenções recíprocas mantém a distancia os adeptos das diversas correntes.

A Teosofia – doutrina iniciática do Oriente – é veiculada no Ocidente por meio da Sociedade Teosófica. Um dos inspiradores de Blavatsky foi Pitágoras (580-490 a.C.). Pitágoras foi também a fonte de Papus. Allan Kardec foi o popularizador dos ensinamentos iniciáticos, por isso o número de adeptos da “doutrina dos espíritos” eleva-se hoje em dia a milhões, enquanto que os das outras doutrinas, muito mais restrito. É denominada também de “espiritualismo científico”. As correntes teosófica e ocultista são mais filosóficas e mais diretamente presas à Iniciação, como a Maçonaria, o Neo-Pitagorismo, o Pitagorismo da Escola de Krótona, com uma parte fechada, esotérica onde o candidato é submetido a provas da sua capacidade para conquistar os graus do conhecimento.

Os graus existem e é preciso conquistá-los pelo próprio esforço físico, mental e moral. As instituições iniciáticas têm dois ensinamentos – o exotérico- literário, filosófico, artístico e científico, mais ao alcance da mentalidade comum, e o esotérico, desenvolvimento das faculdades hiper-físicas, estudo do simbolismo, etc., que não podem estar ao alcance da maioria, mas de uma minoria consagrada à vida iniciática. Para entrar na posse dos conhecimentos iniciáticos necessário uma base sólida. 
O conhecimento iniciático pode ser adquirido pelo contacto com essas instituições ou intuitivamente. Ambos para serem completos devem ser objetivados, praticados.
Para se ter uma idéia clara do que essas correntes fazem e porque agem desta ou daquela maneira, necessário intimizar-se com as mesmas ou procurando pela intuição atingir as causas, o que é muito problemático.

Conhece o valor dessas instituições quem puser em prática os seus princípios. A consciência plena da realidade é o resultado do consórcio harmônico da teoria e da prática. Há duas espécies gerais de conhecimento – intelectual -, fruto da meditação, e - experimental -, fruto da observação e da experiência objetiva e subjetiva.

Só o conhecimento teórico é insuficiente. A falta da prática dos princípios, interna e externamente, tem levado as instituições ao caos e ao fracasso.
As instituições caem, mas as ideias mantêm-se. Os princípios são eternos, independem das organizações humanas erigidas para defendê-los e praticá-los.

 ESOTÉRICO: adj. Qualificação dada, nas escolas dos antigos filósofos, à sua doutrina secreta.
Incompreensível às pessoas não iniciadas: linguagem esotérica.
Pode o homem perecer, física e moralmente, mas, as instituições, os princípios, prosseguem sua marcha.
EXOTÉRICO: adj. Diz-se das doutrinas filosóficas e religiosas ensinadas publicamente (por opos. às doutrinas esotéricas).

O Espiritismo ganhou rapidamente um grande número de adeptos não só por não ter as provas iniciáticas como as outras instituições, como também, por inspirar-se nos Evangelhos, fartamente difundidos pela massa, pelas Igrejas. Por isso ele encontrou já um ambiente mais ou menos preparado e independente da cultura individual. É o limiar da Iniciação. Saiu da iniciação e conduz à Iniciação. Os antigos conheciam e praticavam o espiritismo, embora sob outras denominações. Ele não tem o conhecimento gradativo, hierárquico como a corrente de Papus e Blavatsky. A hierarquia existe. O indivíduo é que transpõe pelo próprio esforço os degraus do conhecimento e da ação. O candidato não pode atingir todos os conhecimentos a um só tempo, daí a necessidade da divisão, dos graus, da hierarquia. Tudo é lento e gradativo. Mental, moral e espiritual devem estar conjugados para se poder algo alcançar.

Essas três correntes nasceram na mesma época e abriram novos rumos ao século XX. Os fundadores foram amigos, separaram-se e combateram-se depois, mas no fim aproximaram-se. Da luta entre eles surgiu um bem: Blavatsky, na Índia, Kardec e Papus na França, estudaram e procuraram aperfeiçoar suas doutrinas a fim de torná-las invulneráveis à crítica. Disso resultou a expansão dos conhecimentos esotéricos e a difusão das idéias espiritualistas esposadas por essas doutrinas. Como a Europa, a Ásia e a América sofriam o influxo mental da França essas doutrinas circularam com a literatura francesa ao lado da inglesa, veiculadora da Teosofia. Essa influência se fez sentir também, no Brasil, onde Dario Vellozo, após ter conhecido e meditado todas essas correntes encontrou em todas elas a influência direta do Pitagorismo. Com isso elaborou uma síntese prodigiosa do conhecimento humano, traduzida no neo-pitagorismo contemporâneo, expressado através da sua obra prima – ATLÂNTIDA (1938).

O pensador brasileiro fundou a princípio o Centro de Estudos Esotéricos “Luz Invisível”, mais tarde “Loja Maçônica ‘Luz Invisível”
Dario Vellozo pertenceu à “Ordem Martinista” fundada por Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803) e dirigida nos últimos anos por Papus, que faleceu em 1916. Na personalidade do Mestre centralizaram-se todas as correntes esotéricas, que ele fez irradiar do Paraná, dando a este Estado o “Instituto Neo-Pitagórico” – ponto de convergência e de conciliação das doutrinas iniciáticas: Teosofia, Ocultismo, Esoterismo, Martinismo, Maçonaria, etc. 

Traços biográficos – Dario Vellozo nasceu no Rio de Janeiro, a 26 de novembro de 1869 e faleceu no Paraná a 28 de setembro de 1937. Foi um elo entre dois séculos culminantes na vida da Humanidade. Sua evolução espiritual se fez numa linha ascensional ininterrupta tendo passado pelo catolicismo, materialismo e ocultismo. Foi discípulo de Haeckel (1834-1919), Büchner (1824-1899), Darwin (1809-1882), Lamarck (1744-1829), etc. Em o livro “Esquifes” estão traços desse materialismo já infiltrado por outras correntes.

Pela ciência entrou em contacto com Papus que o atrai para o Ocultismo, dando margem à fundação do “Centro de Estudos Esotéricos Luz Invisível”. A Maçonaria absorveu-lhe uma grande parte de sua vida. Percorreu e conheceu todos os ramos do Ocultismo: Magia, Alquimia, Astrologia, Quiromancia, Numerologia, etc. Estudou a Cabala. Palmilhou todos os domínios do conhecimento espiritual, revolvendo todas as correntes espiritualistas. Sua atividade intelectual desenvolveu-se primeiro como poeta, literato, romancista, jornalista, orador, etc. apurando mais e mais a forma e aprofundando mais e mais a idéia. Criou o seu estilo. 

O extraordinário em Dario Vellozo é a harmonia entre o estilo, as concepções, as imagens e a sua personalidade esquisita e díspar. Possuía grande capacidade de assimilação mental e de difusão do conhecimento adquirido, alquimizado através de seu cérebro e de sua individualidade. Como artista, filiou-se, no início, à corrente literária simbolista, como se verifica em suas páginas de prosa e verso. “Sólio do Amanhã”, “Voltaire”, “Serpente Negra”, são obras de análise e de anticlericalismo.
“Templo Maçônico” condensa as experiências e conclusões atingidas no trato permanente com a obra dos Mestres da Acácia. A Filosofia deu-lhe o método para reunir todo o material científico que estava disperso. Seus orientadores foram Euzébio Motta (1847-1920) - o mestre da Lógica –, Justiniano de Mello (1853-1940) - o renovador do método histórico, Delphin de Carvalho (?) etc.

A Filosofia conduziu-o à Pitágoras, o criador do termo. Fundou o “Método Neo-Pitagórico”, método integral do conhecimento. Sua cultura vazou sob as mais variadas formas literárias. Cultivou com amor a Poesia, mesmo porque as expressões mais duradouras são aquelas traduzidas em ritmo. Como literato foi artista da expressão. Coroando o literato, o artista, o poeta, o filósofo está o Iniciado. Através das múltiplas facetas de sua personalidade polimorfa diremos também que foi um espírito eminentemente plástico: fazia-se compreender por todos porque a todos compreendia. 

Estudioso a vida inteira, viveu fora das limitações do espaço e do tempo. A soma incalculável de conhecimentos adquiridos foi veiculada através do professorado, da oratória em que pontificou como o maior, e através de suas obras inúmeras, que revelam ainda sua permanente evolução. Alma sempre jovem sabia achar sempre novas expressões e novas imagens para traduzir as idéias. Como obra de ciência deixou: “Compêndio de Pedagogia”, “Lições de História”, “O Habitat e a integridade nacional” 

Em Sociologia: “No Limiar da Paz”, “Terra das Araucárias”, “Meu País” notas. 
Obras poéticas: “Rudel”, “Alma Penitente”, “Cinerário”, “Atlântida”. 
No “romance: “Trança Loura”, O Encantado” – inédito, etc. 
Em Filosofia: fragmentos dispersos.
De seu labor pitagórico legou-nos: “Símbolos e Miragens”, “Do Retiro Saudoso”, “Horto de Lysis”, “Livro de Alyr”. Ao lado de seus trabalhos figuram outros espalhados em revistas, jornais, etc.

- Quando, onde e como foi iniciado? Só a ele pertence saber. Suas últimas obras revelam a evolução espiritual adquirida no estudo, na meditação e na ação quotidiana com os seus semelhantes. Justamente porque não cristalizou num período de sua evolução mental é incompreendido e os julgamentos feitos sobre sua personalidade são deficientes, ressentem-se de conhecimento mais completo. Alguns ainda hoje, julgam-no baseados nas lutas e polêmicas que sustentou contra o clericalismo no começo do século... Sua personalidade integral, a verdadeira, permanecerá desconhecida, nem os discípulos e amigos mais íntimos a conheceram. Toda biografia que dele se fizer será falha.

13 - Janeiro – 1941. 
Apontamentos da 12ª aula do Curso de Pitagorismo, organizado pelo Professor Rosala Garzuze, ministrado no Templo das Musas, sede internacional do Pitagorismo, em 21 de julho de 1939, transcritos em 13 de janeiro de 1941, revistos e completados em 07 de fevereiro de 2008.
Presidente do Instituto Neo-Pitagórico (1937 a 2009)

Um comentário:

  1. Conhecendo a historia do Dario tudo fica melhor,é importante sabermos melhor sobre quem foi o a pessoa homenageada por nosso colégio.

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